quinta-feira, 29 de novembro de 2007

E ele chora

Ele não conseguia acreditar. Não aquilo, não com ele, não podia ser. A dor era insuportável, a perda. Ele não suportava vê-la em outros braços que não os seus, sentindo outros abraços que não os seus.
E aquele velho vaso desfez-se em cacos na parede. 'Droga'. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. E aquela música começou a tocar, lembrando os bons momentos vividos. Enche novamente o copo com aquela bebida barata.
'Estou parecendo um velho bêbado'. Risos. Lágrimas. Um turbilhão confuso de sentimentos passa por ele, com aquelas cenas passando por sua mente, lembranças que deveriam ser esquecidas. 'Detesto essa porcaria de música'. A viagem feita no feriado, ah, o mar estava belo naquele domingo, sempre gostei das cores daquele vestido que ela usava, como foi tudo tão belo, oh, o adeus, a partida. Dor. Mais lágrimas. Mais um gole. E o que um dia foi um copo agora não passava de cacos de vidro, pelos quais a luz passava em feixes. 'Preciso de mais copos'.
Vai ao armário, mais um copo. Mais goles daquela bebida. 'Por ela'. Mais bebida. 'Pelo nosso amor'. Não, não era mais amor. Dor, foi tudo o que restou. Nenhuma daquelas doces palavras conseguiu amenizar o momento do adeus. 'Sempre odiei aqueles óculos que ela usava'. Mais bebida. Parece que anos haviam passado desde que ela passou por aquela porta, para nunca mais voltar. Mais bebida. Risos. Lágrimas. Mais pensamentos confusos.
Levantou-se e olhou pela janela. Nunca tinha visto o mar com os olhos molhados, ficava tão mais bonito.


"E o Pierrot, chora"

terça-feira, 27 de novembro de 2007

"O amor não se tem na hora que se quer, ele vem no olhar. Sabe ser o melhor na vida e pede bis quando faz alguem feliz".

domingo, 25 de novembro de 2007

Um breve comentário sobre despedidas

Despedidas são sempre momentos difíceis. Parece que, a cada uma delas, deixamos um pouco de nós para trás, junto com aquele momento, com aquelas pessoas das quais nos despedimos.
São lugares que nos marcam, pessoas que deixam lembranças, momentos que nos fazem crescer, aprender, ou que simplesmente nos trazem alegria de viver. São pequenos detalhes que fazem a nossa vida mais feliz. É acordar e chegar em um local no qual você se sente bem, onde todos (ou pelo menos boa parte deles) te cumprimentam com um sorriso, com aquele 'bom dia', que, apesar de parecer algo tão banal, faz com que você se sinta bem. São aquelas conversas, aquelas risadas, e até mesmo aqueles sermões de cada dia que deixam um gosto de saudade.
Nem tudo é ruim em despedidas. Nelas, podemos ver o quanto mudamos, crescemos e aprendemos naquele período o qual estamos terminando. Podemos ver o quanto ganhamos: as amizades, o companheirismo, os sorrisos.
Na verdade, despedidas são como uma transição, e são momentos pelos quais passaremos diversas vezes em nossas vidas. Em cada uma delas, o gosto amargo da saudade vai fazer com que lágrimas caiam, mas isso é normal. Quando se gosta de algo, quando aquilo te faz bem, é duro ter que deixá-lo.
É claro que as despedidas não são momentos tristes, de forma alguma. Há aquela esperança e aquele desejo de, com o passar do tempo, voltemos a nos encontrar.
Porque é como dizem: "todos os fins são também começos, apenas não sabemos disso na hora".



(Texto dedicado ao 2º 04 manhã, uma turma inesquecível)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Drosophila

Ele olhou para o copo pela metade de bebida barata, em seguida olhou para o relógio que insistia em marcar cada precioso segundo que lhe escorria pelas mãos.
O dono do bar, um senhor gordo de bochechas rosadas e ar simpático, limpava um copo com um pedaço de pano. A garçonete, no seu ir e vir, passava por entre as mesas distribuindo sorrisos, copos e xícaras aos clientes.
Sua bebida continuava pela metade. 'Raios', pensou. Aliás, parecia ser a única pessoa pensativa no recinto, já que os demais pareciam ocupados demais para tal ato, entre goles e risadas, palavras e bocados de comida.
Uma mosca, aquela mosca. 'Queria ser uma mosca, assim, magnífica e insignificante'. Tomou um gole. 'Odeio bebidas frias'. A mosca, em seu ir e vir. A mosca, com seu bater de asas frenético. A mosca, com asinhas frágeis. A mosca, pousada na janela.
Ele a olhou, como quem admira a beleza de mil tesouros. Seu zunido soava como música para aqueles ouvidos cansados das palavras.
Mas a mosca se foi, voando pela janela, a janela que estava aberta, como uma porta que deixasse escapar seu último fio de esperança.
E o bar pareceu silencioso, e os sons cessaram. Sua esperança havia ido embora com aquela mosca.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

. Thadeu diz:
o que seria o nao-leigo?
' maíraaa diz:
assim, digamos que conheço pouco, mas que estou sempre aberta a conhecer mais... porque há aqueles que não conhecem, e que se fecham a conhecer
' maíraaa diz:
'o que, diga-se de passagem, não gosto.
. Thadeu diz:
hunrum
. Thadeu diz:
preconceito, né...
' maíraaa diz:
sim...
' maíraaa diz:
não conhecer algo e se fechar para aquilo é uma atitude tão, sei lá, 'burra'
. Thadeu diz:
medo do desconhecido
' maíraaa diz:
medo de aventurar-se
. Thadeu diz:
a gente teme o que nao conhece
' maíraaa diz:
deixando de conhecer por temer
. Thadeu diz:
é sim, é sim...
' maíraaa diz:
às vezes é necessário se arriscar, só assim a gente passa a compreender melhor as coisas
' maíraaa diz:
pra futuramente não se arrepender
' maíraaa diz:
'pôxa, eu deveria ter feito isso...'
. Thadeu diz:
justo!
' maíraaa diz:
que nem aquela música
. Thadeu diz:
arrepender-se de que fez, do que de nao ter feito
' maíraaa diz:
Epitáfio, titãs
' maíraaa diz:
acho que eu jamais quero dizer tantas coisas
' maíraaa diz:
'devia ter... queria ter...'
' maíraaa diz:
a não ser que seja 'queria ter feito tudo isso de novo'
. Thadeu diz:
é tão simplório, mas tem que ter uma cabeça feita para ver isto..
' maíraaa diz:
às vezes o que é mais simples é o que mais demora para ser visto
' maíraaa diz:
as pessoas parecem não querer ver o que está debaixo do nariz
. Thadeu diz:
falta de humildade?
' maíraaa diz:
ou apenas 'cegueira'


Se fizermos uma análise, creio que mais de noventa por cento das pessoas do mundo vive assim, de maneira temerosa frente ao que desconhece. Não vivem, apenas existem. Limitam-se em converter oxigênio em gás carbônico e em suprir suas funções vitais.
Muita gente precisa despertar, sair de sua bolha e ver que há um mundo inteiro lá fora, e que esse mundo é delas... Ver que depende de nós (sim, como aquela música) fazer alguma coisa. Mas que enquanto estivermos concentrados apenas em nossos desejos egoístas, enquanto não acordarmos para a vida, enquanto não enxergarmos aquilo que está na nossa frente, de nada adiantará. Pior: nos trará arrependimentos dolorosos.