domingo, 31 de maio de 2009

Aquele sorriso.

Uma semana estressante, de uma vida que também não anda lá essas coisas de calma. Cobranças, medos, incertezas, insegurança, tudo junto em uma mente de 18 anos que não sabe se consegue dar conta de tudo, mas que se esforça como ninguém pra que, no final, tudo dê certo.
Os olhos cansados, a alma cansada, também. Precisava de algo, só não sabia o que era.
No caminho de casa, uma parada. Ah, tudo bem, esperaria pacientemente, era o jeito. Mas a vida, às vezes, parece que faz tudo se encaixar. Bastou olhar para o lado para que percebesse: era daquilo que precisava.
Duas crianças descobrindo as coisas daquele jeito que só elas sabem. Os botões do carro, o volante, tudo parecia tão interessante, o pai assistindo e rindo. Mas eram os sorrisos das crianças que iluminavam a cena toda.
Assistia, quieta, com um sorriso tímido, tudo aquilo. Mas, antes que pudesse perceber, a pequena garotinha a viu. Olhou, desconfiada, mas logo abriu um largo sorriso: o mais lindo já visto.
Aquela tristeza, por um segundo, pareceu sair de mim, como se aquele sorriso fosse um tipo de "ei, acorda, a vida é bela, não fique triste assim".
Logo, os dois, menino e menina, sorriam para mim, a desconhecida, que apenas os admirava, com uma expressão boba, um sorriso contido e olhos cansados.
A alma, outrora cansada, pareceu perceber que ali se encontrava um apoio, por mais que eles não se dessem conta disso, e resolveu fazer-me rir. Gargalhar.
E, por alguns momentos, parecia que não havia cansaço, que não havia tristeza, que não havia nada ruim. Que o que me bastava era olhar tudo com aqueles olhos inocentes, sonhadores.
Mais que isso: me fez ver que um sorriso muda tudo. Pra eles, talvez, apenas mais um sorriso entre tantos, daqueles que a gente dá para desconhecidos na rua. Para mim, foi como uma ajuda vinda de onde eu menos esperava. Tantas pessoas, indo, vindo, e, onde menos se espera, encontra-se um consolo, um apoio. E de forma tão simples, mas tão linda.
Parece não valer nada, mas valeu tanto. E o peso diminuiu, a tristeza por instantes findou, a angústia pareceu algo distante.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Porque permanecer ali era tudo o que tinha que fazer, embora sua mente ousasse libertar-se. Ali, naquela praça, era apenas mais uma a passar, por mais que o vestido dourado a destacasse em meio à multidão que ria. Buscava algum ponto para fixar o olhar, já que era impossível fazer com que os pensamentos permanecessem quietos.
Mostrava no olhar a angústia da espera, esperava por não-sei-o-quê, ela mesma nem sabia mais o que vinha ao seu encontro. Estaria ela esperando por algo que não vem? Adiava o encontro consigo mesma o máximo que podia, afinal, não sabia que danos aquilo poderia causar.
No parque, crianças faziam a vida parecer mera formalidade, como se o importante fosse apenas os giros que a roda-gigante dava no ar, altos e baixos. Os mesmos altos e baixos que ganhavam sentido tão diferente com o passar dos anos, e ela sabia disso.
E ela olhava o parque, as crianças, ouvia risos, sentia a alegria no ar, pairando sobre sua cabeça. Seus olhos mostravam que sua alma ainda guardava a pureza de outrora, por mais que seu corpo, seus atos e seu nome a fizessem parecer tão impura.
Parecia triste, parecia tensa, parecia preocupada. Mas, por instantes, pareceu ser novamente criança, que saltava em uma cama elástica, que dava voltas no carrossel, ah, voltas davam sua vida, agora que era mulher feita. Dos carroséis, guardava apenas doces lembranças, que agora amargavam sua boca com o gosto da saudade do que jamais volta.
A maquiagem dos olhos, agora, estava borrada pelo sal da lembrança. E o que faria? Escondia-se por trás da maquiagem, mas de quem buscava se esconder: dos outros ou dela mesma?
Passos lentos, buscando fazer o tempo passar mais devagar. Se soubesse que sentiria tanta falta dos momentos da infância, teria buscado não apressar a vida, não crescer tão depressa. Ficava a pergunta: ela teria apressado a vida ou a vida a teria apressado? Tantas decisões, tantas mudanças, tão pouco tempo. E de menina a moça, de moça a mulher, tudo no tempo de um suspiro, último suspiro de sua infância.
Agora, apenas lembranças permaneciam, e delas não queria se desfazer, por mais que a dor fosse quase insuportável. Tentava esconder isso de todos, mas dela mesma não podia fugir. Implacável, ela estaria sempre a saber todos os seus segredos.

Um carro azul, um boa noite, foi-se.