terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O pássaro

Voar, aquele sempre havia sido o seu sonho. Como se, num bater de asas, tudo pudesse ser resolvido. Tantas vezes sentira esse impulso, uns mais, outros menos intensamente. Mas aquele pássaro engaiolado em seu peito sempre protestava, querendo liberdade, e ela sabia que a única maneira de libertá-lo plenamente era se ela mesma voasse, livre.
Só ela e o céu que outrora pertencera a Ícaro. Seriam suas asas frágeis como as dele? Do alto - quantos eram os andares? - nenhuma dúvida parecia ser capaz de trazer qualquer aflição.
O vento zunia em seus ouvidos, será que ouviria esse som ao voar? Não sabia. O som que ouvia agora era o de seu coração batendo descompassado no peito, acompanhado pelo farfalhar de asas inquieto do pássaro. O pássaro queria sair, as asas batendo, o coração batendo, o coração queria sair, ela queria voar.
Estava decidida como jamais estivera em nenhum outro momento de sua vida. Ela, que tanto queria voar, sentia apenas poucos centímetros de chão a frente de seus pés.
E voou, aterrissando, pálida, em uma foto de jornal do dia seguinte. No céu, um pássaro azul voava, livre.