quinta-feira, 8 de julho de 2010

Universo particular

A menina olhava pro céu, com aqueles olhos fascinados de quem descobre a miudeza que se pode ser quando se comparada à imensidão que brilha diante de seus olhos. Tantas estrelas, tantos mundos, supernovas, buracos-negros, sistemas binários, nebulosas, cometas, meteoritos, planetas, poeira estelar, sóis e tudo mais. Nomes que ela aprendeu na escola, ou que sua curiosidade a permitiu conhecer.
A menina que carregava um universo dentro de si, cheio de medo, incerteza, alegria, insegurança, plenitude, prazer, dúvida, amor, amizade, tudo aquilo que parecia querer explodir dentro dela e fazer daquela menina uma fonte de luz inesgotável, como na explosão de uma estrela que não cabe mais dentro de si.
E diante daquele mundo tão grande, mas que não era nem um milésimo dos muitos mundos que existem, existiram ou que viriam a existir, a menina libertava as próprias estrelas, que saltavam dos olhos e buscavam abrigo próximo ao chão em vez de voar, tudo isso por conta de uma lei da qual, inevitavelmente, elas não conseguiam escapar.
Apesar de se sentir tão pequena, a menina nunca fora tão grande. Grande ao reconhecer que não era total, que não era gigante, mas que trazia em si uma alma que o era. Grande por reconhecer o quão pequena era, e, por isso, sabia do seu valor. Porque, por menor que parecesse aos olhos daquele universo assustador que parecia querer engolí-la com soa boca de escuridão e sombras, a menina sabia que era singular, e que sem ela o universo de bilhões de estrelas não seria o mesmo, seria um pouco mais vazio, um pouco menos brilhante, um pouco menos intenso, um pouco menos vivo, um pouco menos universo, de fato.
A menina parecia sentir a poeira de estrelas que pairava sobre ela e que pousava delicada e quase que imperceptivelmente sobre seus cabelos, sobre sua face, juntando-se às estrelas que saíam dos olhos da menina, que agora estendia as mãos tentando alcançar um pouco do que levitava sobre ela.
E então, ela percebeu que aquilo tudo era parte de um só ser, um ser que reunia universos grandes e pequenos, e que cada um, com sua singularidade e individualidade, era peça fundamental do quebra-cabeças chamado vida. Vida essa que a menina, agora tomada pelo próprio universo, nunca mais iria enxergar da mesma forma.