quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Drosophila

Ele olhou para o copo pela metade de bebida barata, em seguida olhou para o relógio que insistia em marcar cada precioso segundo que lhe escorria pelas mãos.
O dono do bar, um senhor gordo de bochechas rosadas e ar simpático, limpava um copo com um pedaço de pano. A garçonete, no seu ir e vir, passava por entre as mesas distribuindo sorrisos, copos e xícaras aos clientes.
Sua bebida continuava pela metade. 'Raios', pensou. Aliás, parecia ser a única pessoa pensativa no recinto, já que os demais pareciam ocupados demais para tal ato, entre goles e risadas, palavras e bocados de comida.
Uma mosca, aquela mosca. 'Queria ser uma mosca, assim, magnífica e insignificante'. Tomou um gole. 'Odeio bebidas frias'. A mosca, em seu ir e vir. A mosca, com seu bater de asas frenético. A mosca, com asinhas frágeis. A mosca, pousada na janela.
Ele a olhou, como quem admira a beleza de mil tesouros. Seu zunido soava como música para aqueles ouvidos cansados das palavras.
Mas a mosca se foi, voando pela janela, a janela que estava aberta, como uma porta que deixasse escapar seu último fio de esperança.
E o bar pareceu silencioso, e os sons cessaram. Sua esperança havia ido embora com aquela mosca.

Nenhum comentário: