domingo, 29 de março de 2009

Mão amiga

Sexta-feira, e no supermercado as filas maiores do que nos outros dias. Parece que necessidade de compras e cansaço caminham juntos, unidos pela falta de tempo nos demais dias da semana. Aquela cesta com o jantar não pesava tanto quanto os olhos, que lutavam para continuarem abertos.
Em meio a tudo isso, alguém se mostrava indiferente. Tinha um objetivo bem maior: brincar com aquela garrafa, gelada, não abria por mais que a mordesse.
Caiu.
Toma, querido, pegue aqui. A chupeta, agora, era seu passatempo.
Com licença. Pois não.
Passou para procurar uma revista, ah, achei, mas, espere. Sentiu o toque de uma pequenina mão segurar seu dedo. A mãe da criança sorria. O bebê parecia estar precisando de um conforto, ah, se soubesse que ele também precisava. Há quanto tempo precisava de uma mão amiga? Muito, e só agora viera a encontrar - e onde menos esperava achar. Dedos tão pequenos, mas que passavam tanta felicidade. Aquele olhar tão inocente, fazendo o bem, sendo gentil apenas porque era de sua natureza, ainda não perdera a pureza de que tanto careceria quando fosse mais velho.
Em um instante que pareceu eterno, o bebê confotava um homem feito. Homem que se sentiu frágil, não sabia como agir, se permitia aquele contato tão íntimo e constrangedor, ou se retirava a mão apressadamente. Olhava nervosamente para a mãe da criança, esta apenas se limitava a tirar as compras do carrinho.
O bebê o fitava, com aqueles grandes olhos que refletiam sua grande alma, alma pura de quem ainda não aprendeu que não se deve demonstrar assim os sentimentos ou que se deve conter as vontades. Bebê que não sabia que apenas ao segurar as mãos de alguém, havia gerado um pequeno distúrbio no equilíbrio anteriormente estabelecido.
O homem, sutilmente, afastou sua mão da pequena mãozinha, que ficou, ainda, a tatear em busca de algo, mas que acabou desistindo. Sorriu, saiu e não olhou para trás.
Dentro de si, torcia para que aquela criança viesse, futuramente, a ser uma mão amiga para muitas outras pessoas. Ah, meu Deus, não permita que a essência desse garoto se perca.


- R$14,90.
- Pode ficar com o troco.

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