sábado, 8 de maio de 2010

Espera.

Há muito tempo andava à procura de algo, à espera de algo. O que seria, afinal? Não sabia, apenas sentia aquela angústia de quando se sabe que algo está vindo, ou virá um dia. Uma pessoa, uma lembrança, um cheiro, um gosto, talvez, nem que para adoçar por cinco minutos sua vida, monótona vida. E esperava pacientemente, feito criança que espera o pai que prometeu levá-la para passear. Um copo, dois, três. Palavras perdidas em algumas páginas de um livro que parece não ter fim, as unhas roídas, os cabelos levemente desarrumados, esperando, esperando. Levanta, faz um café forte, a louça por lavar, aquele apartamento-dois-quartos-com-varanda pedindo por uma limpeza, peças de roupas dispostas suavemente nas cadeiras, aquela caixa de bombons com papéis refletindo a luz do sol que entra pela janela como estrelas de celofane. O telefone há muito não toca, as contas acumuladas na mesinha de madeira nobre, a coisa mais nobre daquele ambiente vazio de vida. E a vida dela se esvaindo como a fumaça do incenso que trazia doces recordações do amigo budista da loja de artefatos orientais. Andava desnorteada, esquecida de si, por entre as paredes do que chamava de lar, recanto de sua solidão e de seu desespero, desespero que agora vinha acompanhado de insônia, memórias, uma caixa de cartas antigas e bombons. A poeira parecia se acumular sobre cada canto daquele coração esquecido de emoções, assim como se acumulava nos cantos das paredes do apartamento, cantos agora delicadamente ornamentados por teias finas como as teias que a uniam a seu passado. E, paciente, esperava. O tique-taque do relógio apressado. Remexendo entre as cartas, lendo cada vez mais sobre o que havia sido, vendo, cada vez mais, que a espera era vã, pois nada daquilo iria ser refeito.
Um último raio de sol iluminava, por fim, suas jóias de celofane. As cartas acumulavam-se ao redor dela. Eis que encontrou uma das muitas cartas de amor que fizera. Mais uma das nunca enviadas, o registro escrito da palavra não dita, a prova da pouca coragem, a marca da felicidade perdida. E então, chorou. Chorou por saber que a espera de si mesma seria eterna, pois sempre estaria aguardando algo que não vem, pois era tarde demais.


Nos caminhos tortuosos dessa estrada
Ao andar, me encontrava tão perdida
Eis que, em ti, encontrei não só caminho
Mas, também, um sentido em minha vida.
Pela janela, um papel era lançado. Embalados pelo vento, os versos iam embora.

Um comentário:

Tamára Roots disse...

a espera tb faz parte do ciclo, a espera é apenas o sinal de um novo começo.
espera pelo novo!
lindo texto.
bons dias.