quarta-feira, 16 de abril de 2008

Corredor

Ela, sentada, espera pacientemente. Vê cada segundo escorrer pelas mãos, sem se importar com nada. Seu olhar procura algum ponto no vazio em que se fixar, esperando por aquele momento que parece jamais chegar.
As pessoas passam de lá para cá, ocupadas com suas vidas por vezes vazias, sem sequer imaginar os tormentos que passavam na cabeça daquela garota, que, calada, mirava os sapatos, como que em busca de alguma imperfeição.
Algumas vezes, alguém passava e a cumprimentava, com um sorriso plástico, mecânico. 'Melhor que não sorrisse', ela pensa. 'Melhor seria se eu não estivesse aqui, se estivesse em casa, com meus livros'. Talvez não fosse melhor ela estar em casa.
De repente, ela o vê. Aquele por quem ela se vê atraída. Aquele que ela imagina ao seu lado, falando sobre vidas comuns, sobre pessoas comuns, sobre o tempo. Sobre qualquer coisa, mas que fosse com ele.
Porém, ela tinha medo da decepção, medo de ele não passar de mais um daqueles que ela tanto condenava, que ouve músicas sem respeito, que vive a vida como se ela fosse apenas uma grande festa.


Então, ele a viu. Não sabia o porquê, mas vê-la sempre despertava algo em seu peito, um sentimento indefinido. Queria falar com ela, mas tinha medo de parecer bobo. Bobo? Sim. Não sabia como, mas sentia que poderia decepcioná-la. 'Mas que tolice, a minha', pensava. 'Não passo de mais um, quem se importa?!'. Sentia-se tolo, incapaz, fútil. Sentia que jamais teria palavras para falar com ela. Sentia que jamais poderia estar com ela, jamais seriam amigos, jamais conversariam sobre bobagens. Em sua mente, uma batalha ocorria sempre que seu olhar encontrava aqueles olhos castanhos. E mais uma vez, se foi pelo corredor. Aqueles olhares tornariam a se encontrar? Quem sabe. E continuou a caminhar de cabeça baixa, fitando os pés.


-Oi?

Um comentário:

Anônimo disse...
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