domingo, 3 de agosto de 2008

Sobre o direito de permanecer calado

"- Ei, ei, eu tenho o direito de permanecer calado!
- O direito você tem, o que você não tem é a capacidade."



Liberdade de expressão. Tantos falam sobre ela, tantos clamam por ela, tantos a desejam, tantos a possuem - ou pensam possuir, mas aí já são outros quinhentos. Ela parece sempre o tema a ser discutido. Quer dizer algo e tem medo de ser repreendido? Grite a plenos pulmões: "liberdade de expressão!" e seja feliz. Tem medo de magoar alguém com uma opinião? Dê os ombros e diga "liberdade de expressão, que posso fazer?". Tiro e queda.
Muito bonito, muito bonito. Mas acho que há algo tão importante quanto a tal liberdade: o direito de ficar calado - que em alguns casos pode ser convertido em dever. Direito que nos é dado e que muitos fazem que nem o possuem.
Vivemos em meio a um mundo de opiniões, das mais variadas possíveis e sobre os mais variados assuntos. E parece que é uma necessidade emitir opinião sobre tudo. Digo, possuir opinião todos possuem, mesmo que não queiram. Externá-la é outra coisa. Não sei, às vezes sinto que há pessoas que vivem para mostrar como opinam sobre tudo. Possuem discursos e mais discursos para mostrar como suas opiniões são válidas, o motivo de as terem, e ainda com direito a umas pequenas "alfinetadas" para os que deles discordam.
Céus, é tão importante assim ter as opiniões estampadas na testa para quem quiser ver?
Argumentar, dialogar, ver as coisas de diferentes pontos de vista, conhecer pareceres diversos, e outras coisas é realmente muito bom. Nada como uma conversa onde diferentes opiniões são mostradas. Mas, tenha santa paciência, ter que expor o que pensa sobre tudo não é necessário.
Falo, por exemplo, sobre quando não temos opiniões, ou quando precisamos pensar um pouco mais sobre elas. Ou sobre quando não sabemos se o efeito de nossas opiniões - o efeito de mostrá-las, digo - será o desejado, e preferimos guardá-las apenas para nós mesmos.
O direito de permanecer calado pode ser interpretado como o clássico "em cima do muro".
Mas aqui deixo claro: falo de tal direito não defendendo-o fervorosamente, porque não ter opiniões sempre é como ser um vegetal. "Vegetais, balancem os galhinhos, por favor". Mas ter que dividir o que se pensa com todos pode se tornar totalmente desnecessário.
Um exemplo, você anda despreocupado pela rua, quando um rapaz - ou moça, tanto faz - lhe interrompe e pergunta animadamente: "O que você acha do atual governo?". Surpreso, você repara que na folha que lhe é entregue há apenas duas opções: 'BOM' e 'RUIM'. Você sorri, finge que tem um compromisso e sai. Mas a pessoa lhe persegue até que você, vencido pelo cansaço, emite sua opinião, mesmo que contra sua vontade.
(Aqui faço um breve comentário: é impressionante como, depois de emitir uma opinião, ela parece ficar escrita em nossas testas, e ai de nós se mudarmos. Parece que um 'sim' ou um 'não' nos define de maneira permanente.)
Bem, o direito de permanecer calado é exatamente isso: algo que faz com que você não diga nada que possa vir a ser usado contra você, futuramente. Seria tão bom se alguns o usassem!
Mas deixa estar, aqui já ficaram opiniões demais. E tenho o direito de permanecer calada, não esqueço.

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