terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Passou.

Era aquele o momento pelo qual havia esperado a vida toda. Não acreditava, mas dentro de cinco minutos estaria realizando o sonho de toda uma vida. Todas as noites sem dormir, todas as refeições apressadas, todas as recusas que fizera aos amigos, tudo aquilo caminhava lentamente para um desfecho que só dependia dela.
A solidão, a tristeza, a euforia, a dúvida, a insegurança, tudo mesclava-se no bater do seu coração.
Cercada por desconhecidos ela parecia só. Ouvia apenas os ruídos de sua respiração. O vento abafado por tantos corpos parecia ferí-la, como uma última prova pela qual ela precisava passar antes de entrar e enfrentar o grande desafio que a aguardava.
'Abriram-se os portões', ela ouviu. Como que por instinto, dirigiu-se por aquele portão, passando por um corredor que ficava mais estreito a cada passo. Identificaram-na. Começou a caminhar.
O vento agora não era abafado, mas sim carinhoso, dançando por entre seus cabelos. Tinha um semblante sereno, olhos fixos em seu objetivo. Caminhava como que para salvar-se. Ou não.

Ao chegar, rostos conhecidos mesclavam-se a rostos antes jamais vistos. Respirava.
Enfim, começou. O que foram algumas horas pareceram durar uma eternidade. O sim e o não rodavam por entre sua cabeça, a respiração começava a incomodá-la. O coração batia calmo, mas que calma era essa?
Respirou.
Estava ali, na sua frente, havia esperado, evitado, mas por fim chegou a desejar que chegasse logo, que a espera findasse.
Respirou.
O que mais poderia fazer? Era ela, só ela. Não havia quem a guiasse, estava só e só permaneceria enquanto aquilo durasse. Torturou-se por alguns minutos. O coração ainda não refletia todo o seu nervosismo.
Respirou.
Pensamentos voavam soltos, conectando-se como que por acidente aqui e ali. Era isso, não havia mais o que fazer.

Agora caminhava pelo corredor, chegando ao seu fim e sentindo o vento no rosto. Recusou olhar para o próprio rosto refletido em uma janela. Não queria ver em si mesma a derrota.

O caminho de volta, ao contrário do que sempre ocorria, pareceu mais longo. Dava passos calmos, como quem olha o mundo pela primeira vez. Olhava para o céu, os raios de sol tocavam sua pele, o vento fazia seu cabelo dançar. Não ouvia nada, apenas caminhava. Olhos fixos no futuro, pensamento no passado. O presente era apenas o caminhar. Pessoas passavam, sequer ousava encará-las. Estava ocupada demais olhando para o céu e para as nuvens fofas.
Sorriu. De repente, gargalhou. Enfim, o que era aquilo? Era a certeza de que havia tentado, talvez fracassado, mas de que não perderia sua dignidade por aquilo. Aquilo não era suficiente bara definí-la ou derrotá-la. Ela estava apenas começando e, cedo ou tarde, seria mais forte do que os obstáculos que viriam.

Com os olhos marejados por lágrimas, continuou a caminhar, até o conforto dos braços acolhedores.

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