quarta-feira, 10 de março de 2010

Marca

Cabelos brancos, bem branquinhos. Um ar de quem passou pela vida de modo pleno, completo, e hoje assiste a vida alheia, embalada pelas doces lembranças que a acompanham.

- Do...doce. É, é isso que tem escrito sim. "Que seja doce".

Ouviu sussurrarem ao fundo. Jovens, sempre tão curiosos, tão espantados com coisas corriqueiras. Esquecem que ela, hoje uma testemunha de outros tempos, já fora jovem como eles, cheia de sonhos, de desejos, de segredos, de angústias, de tudo. E a maior vontade da jovem de outra época era que sua vida fosse assim, doce.
Seu pai quase desmaiou quando viu. A mãe, mesmo que a contragosto, teve que admitir que estava um charme. Uma frase, assim, no pezinho delicado da filha. "Que seja doce", dizia.
Muitos a indagavam sobre o porquê daquela frase. Mas, ora, tudo havia sido planejado há muito, até mesmo o local não havia sido aleatório. Doce. Havia lido isso em algum lugar, achou tão bonito. Doce. Tantos significados, tantos. Jovem, medo da vida. É que o futuro era incerto demais, misterioso demais. Nem mesmo o futuro dela pertencia a ela, porque ela não sabia ao certo quanto tempo ele duraria. Nunca saberia. Mas tinha certeza de uma coisa: haveria de ser doce.
Doces os caminhos a serem trilhados, as pessoas a serem conhecidas, os obstáculos a serem ultrapassados, as marcas a serem deixadas. Tudo, tudo haveria de ser doce.
E sim, como tudo havia sido doce. Até mesmo os momentos em que parecia impossível encontrar um pouco de docilidade.
Hoje, aquela marca era quase que só uma linha, no meio de tantas outras. Uma linha de ousadia, de esperança, no meio das tantas outras linhas do tempo, marcas da idade.



(Para um amigo)

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