sábado, 21 de junho de 2008

Cinco minutos

Corria, corria, parecia jamais chegar. Ia sem rumo, não aquilo não. Sentia o sal da fragilidade tocar os lábios, enquanto seus olhos a enganavam, com seus cabelos atrapalhando a visão, que visão?, aquilo já não mais importava. O poder que os cinco minutos tinham, podiam destruir uma vida.


O sol estava ali, como sempre, seu brilho de escárnio, como se a vida sempre fosse bela. Bem, para ela, realmente era um belo dia. Sem contratempos, fez tudo como sempre: distribuiu bons dias, sorriu, foi gentil, comprou aqueles pãezinhos que a faziam tão bem. Caminhou despreocupada, sentindo a brisa a acariciar o rosto, ouvindo o som da vida, no andar, na respiração, no ritmo frenético do tempo.
Era bela, longos cabelos, aquele volume gracioso, e olhos, ah, doces olhos escuros, olhos atentos, assustados, observadores. 'Minha Marília', ele a chamava. Tinha a expressão de constante vigilância, parecia atenta a tudo. Ah, tão bela.
Como de costume, ficou a passear pelas ruas naquela hora que tanto a agradava. Os pés tocavam as folhas, grama, pequenina, frágil, olha, até flores ali. Tão despreocupada, tão leve.
Sentou. Começou a apreciar os transeuntes, pareciam personagens de uma história só dela. Ele pediu para que o esperasse. Era isso o que fazia, esperar.

Olha, é ele. Tudo tão rápido, não!, aquele carro vermelho, vermelho, gritos, meu amor!, acabou-se, ajuda, olhares, ela correu para seus braços, tarde demais, tão tarde, tarde. Vermelho como o carro, o céu refletia em seus olhos, olhos profundamente verdes.
O choque. Não não era, não podia. Enfim, seu dia, seu mundo, sua vida pareceu parar naquele momento. Pôs-se a correr, correr sem rumo, ah, sentia as lágrimas.

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