domingo, 11 de maio de 2008

A garota que queria sonhar

Ela era assim, comum. Ao vê-la a caminhar lentamente pelas ruas, ninguém jamais conseguirá imaginar os tormentos que passam por sua cabeça. Com o olhar distante, provavelmente balbuciando palavras soltas, ela anda por aí, a observar aquelas pessoas que, no seu ir e vir, lembram formigas.
Ah, quisera ela poder apenas ser uma formiga. 'Viver não seria tão difícil, seria?'. Ela queria libertar-se, de alguma forma. Ela queria sonhar, apenas sonhar. Não sabia o porquê, mas ela era a menina sem sonho algum.
Então, pensou a fazer algo jamais tentado: roubar sonhos. Começou com aqueles pequenos, bobas fantasias. Roubava-os e se deliciava com os sonhos recém adquiridos: era como comer doces. Um dia, porém, cansou-se de fantasias. Queria sonhos maiores, mais intensos, melhores, de fato.
Passou, então, a buscar sonhadores, caçá-los incansavelmente, a querer seus sonhos obssessivamente. Um a um ela roubou. Um a um ela sonhou.
Ao sonhá-los, parecia que o mundo caberia em suas mãos, se quisesse. Voava pelo espaço, nadava nos mares, era rainha, era tudo o que sempre imaginou. Sonhava o que sempre quisera sonhar.
Porém, sentiu-se farta de todos aqueles sonhos. Queria sempre mais. Insatisfeita, passou a armar seu maior roubo: queria o sonho perfeito.
Dias e noites esteve a procurar, sempre falhando. Não, não eram os sonhos perfeitos, não, não aqueles. Por quase uma vida, sonhou sonhos que pareciam incompletos, infelizes, incapazes de preencher o vazio em seu peito.
Depois de muito procurar, de tanto querer, de tando desejar, ela, enfim, desistiu. Cansou de roubar sonhos. Cansou de não encontrar. Fechou os olhos e dormiu.

Ela estava voando. Nuvens fofas, estrelas cintilantes, águas límpidas, flores delicadas. Ela era o sonho. Havia encontrado o sonho perfeito.

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